Postagens populares

segunda-feira, 21 de julho de 2008

TROCANDOIDEIA: MAIS CONTOS DE LISPECTOR

TROCANDOIDEIA: MAIS CONTOS DE LISPECTOR

<

MAIS CONTOS DE LISPECTOR

Para finalizar a postagem da semana passada, mais três contos do livro Laços de Família, de Clarice Lispector.
A imitação da Rosa - Laura é uma personagem que parece perseguir a perfeição a todo custo. Preparando-se para um jantar que teria com o marido na casa de uns amigos, quer deixar tudo organizado: a casa arrumada, a empregada despachada e ela de banho tomado e com seu vestido marrom à espera de Armando. Seria o primeiro evento depois de sua volta do hospital, onde esteve internada, provavelmente por causa de um surto. Ela admirava a perfeição das rosas e buscava a mesma perfeição como mulher. Para isso, era preciso ser uma esposa modelo, mediana em tudo, até na cor dos cabelos. Facilitar a vida o marido e tornar-se o menos inalcansável e luminosa possível tornavam Laura tão perfeita quanto a rosa.
Preciosidade - tematiza a iniciação feminina. A protagonista é uma adolescente de quinze anos que chamava atenção não por sua beleza - escassa - mas pelo som dos saltos de madeira de seus sapatos. Intimidada pela presença dos homens, não permitia nenhuma aproximação e dedicava-se intensamente aos estudos, sendo uma aluna bastante inteligente e aplicada. Certa manhã, ao se dirigir para a escola, percebe a aproximação perigosa de quatro mãos desconhecidas que a jogam no chão e violentam sua preciosidade. Refeita do episódio, recolhe seus cadernos espalhados pelo chão e reconhece sua antiga caligrafia. Era outra. Ao voltar para casa, pede sapatos novos, mas sem os saltos de madeira, que chamam muita atençao.
O Jantar - Nesse conto, Lispector centra o foco narrativo numa figura masculina. Um homem observa atentamente um velho jantando. Enojado da mão cabeluda, da ação primitiva no manuseio da comida, percebe uma lágrima no velho. Esse momento epifânico faz com que o homem pare de comer, enquanto o velho termina a refeição, paga a conta e desaparece pelo salão luminoso. Empurrando o prato de comida, o homem estava rejeitando a carne, o sangue e imaginando que não era ainda aquela potência, aquela construção, aquela ruína.