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sexta-feira, 8 de maio de 2009

A LIBERDADE DE PODER PENSAR

“Dois peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho nadando em sentido contrário. Ele os cumprimenta e diz:
- Bom dia, meninos. Como está a água.
Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta.
- Água? Que diabos é isso”.
Esse diálogo entre peixes está na abertura de um discurso que o escritor americano David Foster Wallace (morto em 2008) fez como paraninfo de uma turma de formandos do Kenyon College. Justificou que não estava exercendo a função do peixe velho dando lição de moral a vários peixinhos, mas apenas exemplificando, através dessa historinha, o ponto central de seu discurso: muitas vezes a realidade mais óbvia, ubíqua e vital tende a ser a mais difícil de ser reconhecida.
Pois é exatamente nesse desconhecimento das obviedades vitais que nos cercam que reside a justificativa do governo para a implantação do novo sistema de ingresso ao ensino superior, em substituição ao vestibular tradicional. E ainda que se possa questionar a inegável intenção política do uso de um renovado Enem, bem mais importante que perceber essa obviedade fisiológica de homens que circunstancialmente exercem o poder, é reconhecer uma proposta de prova que permita ao aluno a liberdade de pensar, desviando-se da verticalidade que o obriga a memorizar fórmulas e conceitos, geralmente utilizados mecanicamente, num processo de robotização que faz desse aluno um ótimo respondedor; mas um péssimo questionador.
Para não fugir do lugar comum, é óbvio que essa repaginação não é somente da prova, mas de todo o processo que antecede a ela. Naturalmente, quando se pretende modificar um processo infértil de memorização, pela utilização de questões que cobrem do aluno a capacidade de entender e aplicar conceitos, dando-lhe autonomia para pensar, está-se também pressupondo que a orientação esteja norteada pelo mesmo principio dinâmico. Ter-se-á, assim, uma reformulação do processo de ensino, em que o X da questão moderniza-se semanticamente e, certamente, quem desconsiderar ou negligenciar essa inevitável e necessária mudança, será engolido por ela.