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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O URAGUAI - BASÍLIO DA GAMA



Indicado como leitura para o Peies/UFSM/08, o poema narrativo O Uraguai, de Basílio da Gama tem mais força dramática e lírica, que propriamente épica. Quebrando o modelo clássico, constrói versos decassílabos brancos, em cinco cantos que tem como objetivo a crítica aos padres jesuítas e a apologia da política adotada pelo Marquês de Pombal. Ainda que a intenção fosse narrar o conflito que determinou a tomada da Colônia de Sacramento, de longe a parte mais famosa do épico é a da morte da bela Lindóia, que se deixa picar por uma serpente, para fugir ao assédio do jovem Baldeta, um protegido do Padre Balda, chefe da missão jesuítica e - certamente - o vilão da história. Já viúva do chefe Cacambo, Lindóia foge do casamento indesejado com Baldeta, para "se juntar" ao amado morto. E é esse momento, o de sua morte, que prova que o texto é lírico e não épico.

Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado e triste,
Que os corações mais duros enternece,
Tanto era bela no seu rosto a morte!

Essa preocupação em ir além da narrativa sobre conflito, faz com que Basílio crie uma imagem positiva e idealizada sobre a nossa diferença em relação ao mundo europeu. Assim, além do índio digno, bravo e herói, como Cacambo, Caitutu e Sepé, traz também a figura feminina europeizada da índia Lindóia. Temos aqui, certamente, um marco na questão de nossa identidade.